Eu sei que quando juntamos as palavras MULHER, MATO e SOZINHA numa mesma frase o estomago já começa a embrulhar, mas bora desmistificar já isso, porque se feito com segurança, planejamento e disposição, tudo é possível!
Quem é a Malu
Eu sempre fui uma pessoa cheia de inseguranças, especialmente quando o assunto era viver novas experiências. Meus pais, tadinhos, tiveram que se acostumar com uma menina com um milhão de sonhos na cabeça, mas cheia de anseios (na maior parte das vezes bobos). Eles viveram boa parte de suas vidas ouvindo “e se eu não fizer nenhum amigo?”, “e se eu não conseguir me comunicar direito?”, “e se alguma coisa der errada?”, “e se eu não conseguir?”.
Até hoje eu me pego insegura quando proponho viver novas experiências (e acho que isso é normal, neh?) mas uma coisa é certa, foram poucas vezes que eu deixei de viver coisas novas por conta dessas inseguranças, naquele segundo de loucura eu comprava logo a passagem, reservava o hotel, me inscrevia em alguma ação voluntária e seja o que deus quiser. E não é que Ele quis muita coisa boa?
Hoje, depois de me jogar nesse mundo sem pensar muito, eu gosto de dizer pra quem pergunte que nasci pro perrengue! Estar no meio do mato, só com uma mochila, acampando e vivendo com pouco me traz uma sensação de liberdade que eu não sei explicar, é gostoso demais!
E foi exatamente essa sensação (e claro algumas cositas mas) que me fizeram largar meu emprego e minha vida em SP pra estudar turismo sustentável no exterior, e que experiência…Abri minha cabeça pra uma maneira de ver o mundo que já morava dentro de mim e só precisava de um empurrãozinho para florescer!
E aqui estou eu hoje, aproveitando o verão Europeu para viver novos sonhos. Na próxima semana vou fazer um trekking de 6 dias nos Pirineus (cadeia de montanhas entre a Espanha e França) e eu queria dividir um pouco dessas minhas experiências loucas de menina do mato com vocês.
Por que os Pirineus Catalães?
Para viver minha primeira experiência fazendo uma travessia de alta montanha sozinha eu escolhi percorrer a rota circular CARROS DE FOC (em catalão: Carros de fogo), uma rota que conecta 9 refúgios dentro dos limites do Parque Nacional Aigüestortes. Pra completar o roteiro básico é necessário de 5 a 7 dias de muita disposição, o percurso todo tem 55km e um ganho de elevação total de 9200mts, traduzindo, muito sobe e desce entre as montanhas.
Acho que 3 foram os principais motivos pelo qual eu decidi viver essa experiência nessa rota:
- A organização do parque me ajudou muito na hora de organizar minha viagem, logo que decidi fazer esse trekking mandei um e-mail perguntando sobre algumas coisas: é tranquilo fazer sozinha? A trilha é bem sinalizada? Mais pessoas fazem solo? Quais são as melhores dicas? Qual o melhor roteiro? Além das respostas super rápidas ele me deram dicas preciosas e me tranquilizaram quanto ao tema de ser mulher fazendo a travessia sozinha.
- Eu sei, eu sei, a Europa é um mar de possibilidades. Eu poderia ir para Itália, Grécia, Croácia, Portugal…Mas porque não incentivar um pouco o turismo local? As vezes a gente sonha tão alto e esquece que tem coisas lindas para ver bem pertinho da gente. Certamente a Pandemia vai mudar bastante a maneira que viajamos e o turismo local vai vir com tudo! Mas calma, não pira, isso não é ruim! Conhecer nosso quintal é incrível! Além de ajudar a economia local, a possibilidade de nos conectarmos com quem está perto da gente é maravilhosa!
- Para viver essa primeira experiência eu não queria me enfiar no mato logo de cara para acampar, carregar as coisas seria mais difícil, dormir sozinha em uma barraca certamente seria mentalmente desafiador e a gente sabe que como mulher um monte de anseios passam pela nossa cabeça quando o assunto é viajar sozinha. Por isso dormir em refúgios me pareceu uma excelente ideia. Depois de um dia inteiro caminhando, chegar em um lugar quentinho, com comida, uma cama minimamente confortável e poder conhecer gente nova seria perfeito. Os refúgios são estruturas super simples que abrigam montanhistas depois de um longo dia de caminhadas (fica ligada que vou mostras como eles são)
Informações preciosas
Reserva dos refúgios: é necessário fazer a reserva dos refúgios com antecedência e pagar uma porcentagem antes da viagem. A reserva pode ser feita pelo site https://www.carrosdefoc.com/en/ ou com a ajuda da central de atendimento da rota (vai por mim, eles podem te ajudar com tudo)
Como chegar: Os lugares mais incríveis sempre são mais difíceis de chegar, então se prepara! De Barcelona até a entrada do parque eu vou pegar um ônibus (Companhia Asla) de aproximadamente 4h até uma cidadezinha chamada El Puent de Suert, depois outro ônibus (publico) de 30 minutos até Boí e um táxi compartido que deixa montanhistas na entrada do Parque. Ufa, e a aventura quase nem começou.
Mas e a comida? A reserva dos refúgios já te da direito a um café da manhã e um jantar. Há possibilidade também de reservar o que eles chamam de Picnic, que nada mais é que um lanchão para comer durante a trilha. Mas claro, sempre leve na mochila aquela besteirinha que te deixa feliz (no meu caso são cookies).
Os custos: Eles vão variar dependendo da quantidade de dias que você for ficar, mas em média tive um gasto de 500 euros para fazer o trajeto (refúgios, comida, trechos do caminho) Atenção leve dinheiro, a maior parte dos refúgios não aceitam cartão.
Melhor época: a rota abre somente no verão (entre os meses de junho e outubro) e os melhore meses para visitar são agosto e setembro. As temperaturas são mais quentes e não se encontra mais neve pelo caminho.
Se prepare para caminhar muito e estar 100% em contato com a natureza! E se der medo, vai com medo mesmo!